Como o azul estava ganhando hoje de manhã... Enfim, continuem votando, vamos ver sobre que cor iremos falar na sexta feira que vem... E hoje: AZUL!
É a cor do uniforme. Escolar. Das aeromoças. Da Marinha. Cor boa para um
terno: severa, mas, convenhamos, melhor que o preto. É a cor da praticidade - e
da calça jeans. Enfim, uma cor que vemos todo dia, e que todo mundo tem no
armário...
Será que sempre foi assim?
Em algumas culturas, até hoje, a rosa azul significa
mistério ou algo inatingível. Traz ao dono a juventude e a realização de
desejos impossíveis. As filhas dos reis de contos de fadas prometem casar-se
com aquele que lhes trouxer uma rosa azul.
Temos também o pássaro azul da felicidade, e o pássaro azul
da esperança em vários legendariums.
Rosas vermelhas e rosas brancasColhi para o deleite do meu amor.Ela não gostou de nenhum dos meus buquês -Pediu para eu colher-lhe rosas azuis.Andei metade do mundo,Procurando onde essas flores cresciam.Metade do mundo à minha perguntaRespondeu com risadas e brincadeiras.Voltei para casa no meio do inverno,Mas o meu bobo amor morreuBuscando no último suspiro delaRosas dos braços da Morte.
Kipling
Cor do céu, cor do amor - mas amor celestial, ideal. Cor das
vestes das virgens nos quadros antigos...
Alias, levando em conta que corantes naturais de cor azul
são poucos e raros, tecidos azuis eram bastante valiosos.
Abra o baú mais rico,Levante a coberta bordada.Lá você encontrará seis cintos de ouro,Sete vestidos azuis que foram tecidosPela filha da lua,Terminados pela própria filha do sol.
Kalevala
Nas páginas dos manuscritos medievais, vemos damas e
cavalheiros de azul.
Na metade do século 14, o rei inglês Edward III fundou a
Ordem da Liga. A rainha, ao dançar em uma festa, deixou cair a liga azul que
segurava a sua meia. O rei, vendo a alegria de alguns dos convidados levantou a
liga e disse aqueles que viam malícia nisso deveriam envergonhar-se. E fundou a
ordem.
Obviamente, os mantos dos cavalheiros eram azuis, e também a
liga que eles usavam como distintivo era azul: os cavalheiros a colocam na
perna esquerda, abaixo do joelho, e as damas, no braço esquerdo, acima do
cotovelo.
Enfim, o azul era a cor do poder e da riqueza.
Mas havia também um outro sentido para esta cor: na Idade
Média, o azul era a cor de fidelidade amorosa, e depois se tornou a cor da
pureza.
A cor azul das vestes não convencerá,Como quaisquer promessas de amar a sua dama;Mas quem é fiel e guardaA honra da dama das más línguas......Mesmo não vestindo azul, dá valor ao amor,E o pérfido traidor,Cuida de esconder a falha com roupas,Vestindo-se de azul...
As senhoras do século 16 eram bastante indiferentes em
relação ao azul, o preto era bem mais popular, mas já no século 17, a cor
começa a voltar à moda (se bem que o azul claro era bem mais popular que o azul
escuro).
No século 18, mesmo não estando entre as cores mais
queridas, o azul era bastante usado tanto pelos homens, quanto pelas mulheres.
E, no final do século, foi uma das três cores (junto com branco e vermelho) da bandeira da rescem-nascida República Francesa, o que não deixou de refletir no vestuário.
Mas o grande reino do azul escuro foi durante o século 19.
Pelas ruas das cidades e pelas páginas dos romances, vagavam
dandies vestidos de azul: as demais cores mais brilhantes foram apropriadas
pelas mulheres, mas azul...
Tenham vergonha, senhoras!
Do bolso da sua sobrecasaca, aparecia a ponta do lenço azul com bolinhas brancas, e a própria sobrecasaca estava aberta, de modo que todos poderiam admirar o colete de cashemira com listras azuis...Ele realmente parecia um nobre agora, e bem na moda: fraque azul com botões dourados.Ele estava usando um casaco azul e um colete azul com listras negras de uma polegada de largura.Ele estava vestido com uma excentricidade puramente inglesa: fraque azul com botões dourados e gola alta, colete branco e calças brancas...
A moda masculina ainda era suficientemente chamativa.
As senhoras também gostavam dos tons de azul, principalmente
quando se tratava de trajes que imitavam a moda masculina, por exemplo, trajes
de montaria. Ou então vestidos que imitavam o uniforme militar (e quem não
gosta de militares?).
Ao mesmo tempo, o azul torna-se, cada vez mais, "cor de
uniforme". Mas o azul não desistia facilmente =)
Já na metade do século 18, na Inglaterra, surgiu o termo
"meia azul", que designava uma mulher que valorizava mais a sua
inteligência que a aparência (tá bom que, inicialmente, este apelido foi
cunhado para homens). Mas ainda não é uma razão para achar o azul chato.
Designer do início do século 20, Mariano Fortuny, criava não
só vestidos, mas também tecidos. Seus trabalhos eram tão belos que inspiraram o
escritor Marcel Proust a descrevê-los em sua obra mais de uma vez.
Pouco antes da primeira guerra mundial, cores berrantes
voltaram a Europa, depois de uma breve ausência na virada do século, e o azul
tomou todo o palco - inclusive literalmente - teatros, bailes a fantasia...
O pintor Leon Bakst, conhecido principalmente por suas
criações para o teatro, adorava o azul.
O traje luxuoso e original de veludo e seda por Bakst de combinações de veludo negro e azul, decorado com safiras e esmeraldas, seda verde, com ornamentos prateados. Penteado decorado com penas de avestruz verdes, lilás e azuis.
Não é impressionante? Um belo traje para um baile de
máscaras em estilo oriental.
Mas as festas acabaram, e começou o século 20 "de
verdade". E nele, o azul passou por tempos difíceis. Haverá muito azul,
mas ele definitivamente foi relegado ao papel de uma cor prática, séria, que
suja pouco, conservadora, respeitável. Mesmo quando se trata de roupas de
festa.
E quase ninguém se lembra dos pássaros e das rosas azuis.